"A Escola de Esperanto"

Camilo Cândido Botelho descreve a Escola de Esperanto que funciona dentro da cidade universitária Esperança, na colônia espiritual Maria de Nazaré, que é devotada aos suicidas:

"Não era simplesmente um edifício a mais, figurando na extensa Avenida Acadêmica onde suntuosos palácios se alinhavam em magistral efeito de arte pura, mas escrínio de beleza arquitetônica, que levaria o pensador ao sonho e ao deslumbramento! Era também um templo, como as demais edificações, e nos majestosos recintos interiores a Fraternidade Universal era homenageada sem esmorecimentos e sob as mais sadias inspirações da Esperança, por ministros do bem, incansáveis em operosidades tendentes ao benefício e ao progresso da Humanidade. Localizado num extremo da artéria principal da nobre e graciosa cidade do Astral, eleva-se sobre ligeiro planalto circulado de jardins cujos tabuleiros profusos também se multiplicavam em matizes suaves, evolando oblatas de perfumes ao ar fresco, que se impregnava e essências agradáveis e puras. Arvoredos floridos, caprichosamente mesclados de tonalidade verde-gaio e como que translúcidas, ora esguios, de galhadas festivas, ou frondosos orlados de festões garridos onde doces virações salmodiavam queixumes enternecidos, alinhavam as alamedas e pequenas praças do jardim, emprestando ao encantador recanto o idealismo augusto dos ambientes criados sob o fulgor das inspirações de mais elevadas esferas.
...
Ao longe, o edifício fulgia docemente. como estruturado em esmeraldinos tons de delicada quinta-essência do Astral. Dir-se-ia que os revérberos do Astro Rei, que muito de mansinho penetrava os horizontes do nosso burgo, resvalando brandamente pelos zimbórios e pelas cornijas rendilhadas e graciosas, o envolviam em bênçãos diárias, aquecendo com ósculos de fraterno estímulo a idéia genial processada no seu interior augusto por um pugilo de entidades esclarecidas, enamoradas do progresso da Humanidade, de realizações transcendentes entre as sociedades da Terra como do Espaço. Era, todavia, a única edificação refulgindo tonalidades esmeraldinas e flavas, em desacordo com suas congêneres, que lucilavam nuanças azuladas e brancas, e que não obedecia ao clássico estilo hindu. Lembraria antes o estilo gótico, evocando mesmo certas construções famosas da Europa, como a catedral de Colônia, com suas divisões e reentrâncias bordadas quais jóias de filigrama, suas torres apontando graciosamente para o alto entre flamejamentos que se diriam ondas transmissoras de perenes inspirações para o exterior. Os recintos interiores não decepcionavam, porquanto eram o que de mais belo e mais nobre pude apreciar nos interiores da Cidade Esperança. Feição de catedral, com efeitos de luzes surpreendentes e um acento de arte fluídica da mais fina classe que me seria possível conceber, compreendia-se imediatamente não serem orientais e tampouco iniciados os seus idealizadores; que não pertenciam à falange sob cujos cuidados nos reeducávamos e que antes deveria tratar-se de realização transplantada de outras falanges, como que uma embaixada especial, sediada em outras plagas, mas com elevadas missões entre nós outros, e cuja finalidade seria, sem sombra de dúvidas, igualmente altruística.
Com efeito! A uma interrogação minha, Pedro e Salústio responderam tratar-se de uma filial da grande Universidade Esperantista do Astral, com sede em outra esfera mais elevada, a qual irradiava inspiração para suas dependências do Invisível, como até da Terra, onde já se iniciava apreciável movimentação em torno do nobilíssimo certame, entre intelectuais e pensadores de todas as raças planetárias!"

(Memórias de um Suicida. [sob orientação de] Léon Denis; [psicografia de] Yvonne A. Pereira — 2a ed.— Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 663-665)


Catedral de Colônia (Koln) --- cidade alemã

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