rEFLEXÕES eSCOLARES

Eis um texto de minha autoria, elaborado para a disciplina Sociologia da Educação com a professora Janice Tirelli. De vez em quando surge algo que nào seja pura citação... Perdoem-me pelo estilo "sem parágrafos", como bem observou a minha caríssima Michelli. Seria bom reelaborá-lo, mas estou com preguiça.

Eis o texto:

Fazer uma análise dos elementos educativos que formaram a si mesmo é sempre difícil. Limitar-me-ei ao âmbito escolar. Começarei pela primeira infância, da 1a à 4a série, que se passou toda em uma mesma escola. Lembro-me dos enormes corredores escuros, cheios de portas. Da formação em fila para ir às salas. Que coisa estranha. Lembro tão pouco. Deve ser porque não houve nada muito significativo, ou, melhor, o que me significou foi algo insignificante. Talvez hajam alguns fantasmas, algumas frustrações. Acho que não quero lembrar. Tenho uma sensação de solidão quando penso na minha infância. Todas as lembranças são solitárias, mesmo na presença de outras crianças. Isto me persegue até hoje. Estrangeiro, eis a palavra adequada, para definir como me sinto. Que houve lá que me formou assim: um estrangeiro? Voltemos aos ambientes. Como eram estes? Bem! na verdade, pensando bem, iguais a todo outro ambiente escolar que conheci. Desta forma tudo o que escrevi até agora e que de agora em diante escreverei, conta como o mesmo. Salas que separam turmas; mesas individuais que separam os colegas de turma; muros que nos separam da vida; disciplinas que nos separam os conhecimentos; séries que separam em momentos desconexos o tempo; notas que separam as inteligências. A mesma experiência se repete por anos e anos a fio. Nada muda. Estou terminando a graduação do ensino superior e nada diferente do jardim de infância. A mesma solidão insuperável domina a todos estes ambientes. A solidão do monólogo professoral, que ecoa no imo do pensamento vazio, que logo será esquecido, pois que substituído por outro monólogo não relacionado com o anterior, e assim por diante. A solidão da ruptura de tudo. A formação que descrevo é caracterizada pela ruptura — ruptura de tudo com tudo. E o que sobra é, então, — o nada. Numa sociedade niilista como o é a que vivo, uma educação niilista se me apresentou até o momento. A própria concepção física do mundo, que estudamos na escola, é abarcada neste princípio niilista: tudo são átomos (partículas indivisíveis, mônadas) e vazio (o nada que a tudo engole, insaciável). Vazio este que separa tudo, que não permite a comunicação das mônadas. E as próprias mônadas que são impenetráveis, solitárias, incomunicáveis. Exatamente como são as relações humanas: frias, incomunicáveis, separadas por um vazio eterno. Mas que são os homens além de átomos e vazio? Que importa tudo isso se o sentido da vida é uma relação de bolinhas soltas no vazio? Onde fica a consciência? não existe: é o que concluo irremediavelmente. Somos como robôs: um conjunto de minerais aglomerados — pequenas peças que batem umas nas outras. Ah! baboseiras! baboseiras! E ainda querem que eu acredite nessa palhaçada!
Não, nada disso. É só porque esquecemos da busca da unidade cósmica, o eterno que a tudo liga, a tudo relaciona, que a tudo penetra. Mas se na escola e na sociedade em geral mataram ele, felizmente em outros âmbitos da minha formação ele ressurgiu e a solidão só permanece pela angústia de ver a sociedade em geral mergulhada no mar do vácuo da própria consciência.

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